quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

amei-a no quarto
amei-a na sala
amei-a nas ruas
amei na cozinha

em todos os cantos
jogado nos cantos

[de nada adiantou ser infeliz]
quanto mais sofria, mais pisava

amei-a de dia e de noite
estando sozinho ou acompanhado

[talvez não a tenha amado quando de fato a tinha]
é essa minha sina
minha eterna cicatriz
estar vivo é um perigo

[no momento não posso ver futuro feliz]
valha-me Deus do céu
valha-me São Benedito
trazei a mim o conforto
de ser só e feliz

e sentir que em ser pleno
encontro minha luz

fazei-me feliz por mim
por meus pais e minha trilha

agradeço por tudo
que já recebi

domingo, 26 de fevereiro de 2012

ontem não foi noite nem foi dia
bastou um tremor de vento
ri? gelei?
intenção de temer? não tinha
gastou-se muita energia
antes nós e nós do que sós e sós
dou a minha palavra
onde já se viu alma ficar vagando por aí?

mas são coisas que acontecem
imprescindível é te ter atenta
não deixo de me lembrar
hora que for
a sua dor eu sou ajuda

agora existo por essas e outras
mando recados para aqueles mais
intimos que estiverem lendo e comentando
guardados estão no peito
as palavras me trazem conforto

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

calendário

ê tembu zará!
dá-me o tempo de renascer
o tempo bom de reencontrar o que é meu!

zará, zará, tembu! zará tatetu!


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

cabeça

acontece quando eu me entrego:
me desintegro

assim como quando eu me integro
desinteresso

quando eu te digo: quebra essa
a régua quebra

vou chegando perto com seu lenço
meu bem esqueço

até quando digo: eu não quero
meu bem eu quero

vou andando uma légua e meia
na maré cheia

perco a chave, a casa, a minha veia
e deixo a meia

acontece quando eu te peço
logo despeço

ou se por acaso eu despenco
então me centro

(a continuar...)









sábado, 11 de fevereiro de 2012

deserto 2

camelos
as patas acolchoadas acariciam o chão de pedras do deserto
seu perfil entre panos
na linha do horizonte

tambores cortando a voz da noite
fogueiras

as fagulhas escalam o tronco da palmeira
e vão virar estrelas nas alturas

noite fria no deserto
ecoa o seco estalido de um tambor aquecido
cadeiras, ancas cobertas por tecidos
mistério

deito-me aos pés de um dos tambores
que me tome, que me leve
leve com o brilho de uma labareda

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

fio

a tesoura de cozinha
é a tesoura da rainha
a tesoura do moleque
são duas facas de gilete
tesourinha meia-boca
parte apenas coisa pouca
tesourão de duas pontas
corta tanto quanto encontra

a tesoura tem na escola
mas também está na vida
se cortar o coração
deixa lá duas feridas
no coração de quem corta
e nas metades de quem fica

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

deserto 1

meus olhos já não veem tua beleza
tua miragem, os camelos levaram-na
o oásis emaranhado de teus cabelos
não passou de um sonho, e acordei

parece longe tudo aquilo
tenho receio de sonhar
o cantil já está para secar

que podem as cantigas escuras
que se cantam ao luar?

quero a paz doce dos amigos
o barulho oco da madeira
o sabor doce e bom da tâmara
por hoje, só o caminho me verá

a curva não sei bem onde dará
tudo que tenho é a curva