segunda-feira, 28 de abril de 2014

ficam os vivos

passa a vida
ficam os rios

passa limpa a grandiosa vida
ficam os filhos

passa a vida ficam os vivos

nesta terra
gira o globo
no céu divino
quem aprende
vive sempre
quem esquece
perde o trilho
passa a vida ficam os vivos

foi na chance da chamada
foi na hora de um ensino

quem viu bem
caiu n'água
quem ficou
a ver navios
passa a vida ficam os vivos

o amor é fruta doce
mas lá dentro tem espinho
passa a onda, passa a vida
ficam os olhos, ficam os vivos

foi em teus lábios morena
que meus olhos viram filhos
passa a vida, passa o sangue
passa a corda, ficam os vivos

quantas dúzias de alunos?
quantas pencas de seres vivos?
para ouvir uma lição
que cabe num estribilho?

passa a vida, a canção
fica o doce, ficam os vivos

sexta-feira, 25 de abril de 2014

poema III

foi numa vasta noite
de campos esquecidos
que larguei o meu amor por você

foi num campo largo
de frutos já colhidos
que eu abandonei, sem memória

o amor que tinha tido

te despir em beijos

poema II

fiz de meus dedos
uma canção para ti
de meus dedos sangue
amor e ossos
compus em partes

para te servir

poema I

cai a noite
empoça-se a vela sobre a cômoda
como um véu de ondas rubras
teu olhar me faz lembrar

sábado, 12 de abril de 2014

chuva


chuá
cai a chuva no telhado
chuá chuá chuá

eu não quero me molhar
quero a água na janela para eu poder olhar

chuva chuva
cai a chuva no telhado
pingo d'água molha a telha
telha molha
que é para eu não me molhar

pingo pingo
pingo d'água
molha chuva
molha a água na janela
que é para eu não me molhar

chuva é mole chuva molha
molha o chão lá da varanda
e não venha viu goteira?
não venha me molestar

chuá chuá
chuá chuá
chuva molha a cabeça do menino
molha a perna da menina
que é para a gente dar risada

chuva fina chuva doce
que veio para nos acompanhar

quinta-feira, 3 de abril de 2014

ao poeta


se essas teclas leves cantar puderam
os versos secos que o sertão lhe trouxe
certo memória foi que veio a elas
em meio ao canto triste que se impôs

se nas veredas de um grande poço hoje me encontro
em meio à pedras e à dureza antes fui posto
poeta, onde andarão os versos que já não cantas?
senão nas palavras roucas dos que lhe encontram

sua versão traz a duras penas os contornos
dos ossos finos que a custo enfim sustentam
a carne pouca que se afugenta e traga
a terra branda que há entre as pedras